domingo, 22 de abril de 2007

Eu te esperava sentada debaixo d'um sol que não acontecia em mim. Nublada, em silêncio, me voltava ao acontecimento da tua presença e me ocupava em olhar a rua e conviver com a tua falta. Eu inteira te esperava aquele dia, como se fosses tu o meu excesso, meu fundo. Esperava-te com o corpo inteiro e continuaria te esperando quando tu chegasses, te sentasses ao meu lado e me tocasses o rosto. Porque havia pouco de ti na tua presença e eu precisava de mais, do que não se alcançava: tu-simbólico, tu-semântico, tu-abstrato. Debaixo daquele sol que não me queimava, esperando, sôfrega, pelo o que não chegaria, compreendi que tudo em mim era feito de falta, que mesmo o meu excesso era o excesso de falta, que, em mim, o que não faltava era muito difícil de perceber. Assim que eu vivia o mundo: olhando, esperando o vazio, desejando o espaço, precisando da ausência.


2 comentários:

Kamila disse...

A foto é em Paquetá.

Bárbara disse...

Que lindo..
..."compreendi que tudo em mim era feito de falta", que coincidência!
Que verdade.